terça-feira, 28 de julho de 2009

Portillo - 2009

PORTILLO

(na foto, eu, de casaco preto, Neco, de casaco vermelho, e Luizinho, de calça laranja, posando para Caras)

Esse ano eu não iria poder esquiar, em razão de problemas particulares, mas, na última hora, consegui embarcar numa para Portillo, organizada pelo meu amigo Neko, no lugar de sua filha. Luizinha havia desistido de ir por que ficou com medinho da gripe suína. Colaborou com o fato a repercussão da queda do Air France 447 e daquele outro no Oriente.

A verdade é que foi até bom ela não ir. O esquema era muito perrenhe: uma ski week, de sábado (18/07) a sábado (25/07), deixando a bagagem na custódia do hotel nos dias de entrada e saída, ficando num quarto minúsculo, sem banheiro, com quatro machos fedorentos, tudo pendurado, uma zona. Aliais, o oitavo dia de esqui é brinde.

Em resumo: saímos do Rio na sexta à tarde, dormimos em Santiago num hostel simplérrimo, mas limpinho, e pegamos o transfer para a montanha no sábado cedíssimo, às 7:15 h (U$ 180 a van para 4). Sorte que o desayuno começava às 6:30. Até chegar, fazer o check in, guardar as malas e trocar de roupa, 12:30 estávamos abrindo as pistas. Não almoçamos nesse dia, para poder almoçar no último. No sábado da saideira, após esquiar até às 14:00, almoçamos, demos uma relaxada e após baixamos para Santiago à tardinha, onde dormimos. Domingo, eu retornei para Niterói. Os meninos ficaram em Santiago mais um dia para ir a Valle Nevado (programa de índio, último domingo das férias, tudo lotado, engarrafamento para subir...).

Nós voamos de Pluna, compania uruguaia de baixo custo, pero no mucho. Na ida, cobra-se U$ 20,00 pela prancha. Na volta, U$ 20,00 por cada volume de até 20 kg. Faça as contas antes de reservar. Nem sempre vale a pena. A vantagem é que, voando de Bombardier, não há filas no check in, nem demoram a descer com as malas.

(na foto, eu, Luizinho e o Igor, em frente à entrada principal do Hotel Portillo)

A trip era de 4 cabeças: Eu (42), o Neko (41), seu filho, o Luizinho (17), e seu amigo, o Igor (17). Luizinho, em sua terceira temporada, estava voando baixo (se segura, Johnny). O Igor, na sua primeira temporada, era a garantia de diversão, mas não pelos tombinhos que levava. O moleque é engraçado mesmo! A propósito, me senti velho. Levei um choque... de gerações. Não imaginava que esses adolescentes eram tão despachados. No meu tempo, um cara de 40 anos a gente não sacaneava abertamente, em frente de todo mundo.... Deu para perceber que esses moleques me encarnavam o tempo todo, não?

De lá, só sabia que o hotel era muito caro, especialmente na alta temporada e que a montanha era pequena, apesar de desafiadora. Alguém já tinha me dito que não havia gostado de Portillo, que é também o nome do único hotel desse charmoso centro de esqui, fica de frente para um lago belíssimo, no meio de um vale.

Aliais, antes que me esqueça, se você, um dos cinco leitores desse artigo, pretende aprender a esquiar, não vá a Portillo. Lá falta um pista verde para os primeiros passos. Só há dois curralitos, que é um pedaço quase plano e muito pequeno.

(eu, Luizinho e Igor, em frente a guarderia de botas... ao lado da guarderia de esquis)

Portillo é um resort super exclusivo, pequeno, caro (o quarto mais barato custa U$ 2.200 a semana, com 4 refeições por dia no restaurante principal, tipo francês, muito chic por sinal). Ouvi algumas pessoas reclamando das instalações e dos quartos do hotel. Deve ser aquele povo acostumado com hotel 5 estrelas. Soube que não há televisão nos quartos, mesmo os mais caros. A idéia, me parece, é que todos se reunão no Lobby para passar o tempo.

A propósito, este é o centro de esqui mais família que já vi: lá freqüentam famílias inteiras, com filhos, sogra, papagaio, que lá vão todos os anos. Todos se conhcem e conhecem os funcionários do hotel pelo nome. Mas não confie no Alex, o responsável pelo taller (oficina).

Mas há duas opções alternativas ao hotel principal, mas que fazem parte do complexo: a primeira, apenas cara, é o Octógono, anexo ao hotel, há uma distância de 50 metros (U$ 1.400 a semana, com 4 refeições por dia no restaurante principal), com quartos bem pequenos (parece-me que só tem um beliche) e banheiro privativo.

(foto minha, com o Inca Lodge ao fundo, caminhado em direção ao hotel: 50 metros)

A segunda é o Inca Lodge, ao lado do Octógono, onde ficamos, bem mais acessível (U$ 700 a semana, com 4 refeições por dia no bandeijão, e não no restaurante principal), de quartos mínimos com dois beliches e banheiros coletivos. Se não completarem os quatro lugares, um estranho pode ser alojado, tipo albergue. É lá que ficam os pobres latino-americanos (não exatamente pobres, mas tão-somente não suficientemente abonados) e os europeus mão-de-vaca, que ganham em euro, mas gastam a conta-gotas.

Todos os hóspedes, inclusive os do Inca, podem freqüentar as dependências e atividades do hotel, o que incluí spa, academia, aulas de ginástica, alongamento, dança de salão, eventos diversos, piscina aquecida e hot tube. O restaurante principal é bem arrumado, embora o jantar nem seja tão caro assim (U$ 25,00). O bandeijão, qué é onde comem as equipes de pista, professores, resgate, hóspedes do Inca e visitantes, é bem razoável.

(na foto, eu, Luizinho e Igor, na sua super prancha Burton Custom 0 Km, na cabeceira da Plateau... sim, o Igor conseguiu ir nessa pista, no último dia.)

Quando cheguei em Portillo, olhei a montanha e disse: isso aqui é muito pequeno. Fomos andar e tive a certeza: é muito pequeno mesmo. Em cada lado do vale, há apenas uma pista principal, uma auxiliar e algumas enganações. Além disso, fica muito claro que a montanha é preparada, melhor dizendo, totalmente direcionada, para os esquis. Não chegaram a proibir o snowboard, mas é como se não fizessem questão de nossa presença. Sequer uma rampinha para saltos existe por lá. Eles ainda acham que esquiador só anda em pista.

A altitude é quase um problema, isto porque, depois do terceiro dia, você se acostuma um pouco. O hotel está a 2870 metros de altitude. No alto das pistas, chega-se facilmente a 3.000, 3.500. É o tempo todo com pouco ar. Para dormir nos primeiros dias, só usando o respire melhor, aquela aba que se cola no nariz que força a abertura das narinas. Por ser alto, não vemos árvores em Portillo. Só pedras e neve.

Conformado, resolvi aproveitar o que a montanha tem de bom. A velha história de tentar enxergar o copo meio-cheio, ao invés de meio vazio. E o forte de Portillo é a neve, de excelente qualidade. Além disso, como é bem frio, a neve não derretia. Quando chegamos, havia duas semanas que não nevava, mas a neve estava em boas condições.

(na foto, eu, na entrada de trás do hotel, na sacada que dá para as piscinas do spa. Ao fundo o lago, que é um capítulo a parte, e chegou a ter parte congelado durante a tormenta. Á direita, a encosta do vale onde estão as pistas principais: Plateau, Loma e Canários. Á esquerda, a encosta onde está a Juncadillo)

Há pistas nas duas encostas do vale, embora não dê para ir de um lado para o outro esquiando: é preciso dar uma andada para cruzar, o que é bem chato. A rotina era simples, ficávamos quase sempre no lado da direita: aquecimento na “Las Lomas” (azul), para depois pegar a “Plateau” (vermelha), a melhor pista (aquela é continuação desta). Para variar, pegávamos a Canário (paralela a Lãs Lomas), que tinha uns desníveis na cabeceira onde podíamos dar uns pulinhos.

(foto da chegada do andarível, com o Luizinho em primeiro plano)

Logo descobrimos que havia um tipo de meio de elevação muito engraçado que chamam de andarivel. Trata-se de uma barra horizontal na qual são presos 4 ou 5 pomas, lado a lado, puxada por um cabo, até o topo da vertente. Quatro encostas doble black diamond são servidas por esse acesso: a Condor, a Vizcachas, a Roca Jack e a sinistra El Caracará. Como no sábado (18/07) não havia lá muita neve (estava há duas semanas sem nevar), não nos arriscamos a subir, porque lá para cima a neve estava meio dura. Mas como nevou de segunda (20/07) a quarta (22/07), fizemos desse pico nossa casa. E digo: muito bom!!! Mas alerto, subir nesse trem não é moleza não! A trilha é toda marcada, o povo vai ombro a ombro, e a puxada é acelerada. Ajuda ter dois esquis entre os que estão subindo.

(na foto, eu, Neco e Luizinho, subindo a silla do Plateau, com a Garganta ao fundo)


Na montanha também há outro pico alucinante, que é a Garganta, um fora de pista com um início muito inclinado e estreito - um corredor de 10 metros com pedras nos dois lados - por onde euzinho (que sou apenas um snowboard intermediário com pretensões) sequer pensei em arriscar uma curva – descia freiando até ter largura suficiente. Daí para baixo, era só paraíso. No dia seguinte ao da nevasca, nós fomos tentar descer a garganta. Eu tinha botado a maior pilha, só para ver o Luizinho amarelando. Mas chegando lá, o garçon do restaurante Tio Bob, próximo ao acesso do pico, fez um terrorismo federal... que era muito perigoso, que tinha muita neve, que se encalhasse, havia o perido de afundar, tal e tal. Como só estávamos nós, e já era mais de 16:00, quem amarelou fui eu. O Luizinho subitamente virou macho e queria descer de qualquer jeito. Mas acabou Neco embarcou na minha. Como saber se entraríamos numa furada? Fato é que Luizinho caiu na minha pele!

(foto da gente tomando um cafezinho no Salão Nobre)

Mas eram 4 refeições por dia. Acho que até engordei, o que não seria nada de absurdo, em vista do que como. Além do café da manhã que tinha, sempre, ovos mexidos, iogurte, granola, queijo, além do tradicional pão com leite, tinha o almoço às 13:00, seguido de 20 minutos de descanso no grande lobby do hotel, onde rolava um cafezinho free (Johnny não agüentaria.... "vamu andá!!!"). Vencida a preguiça, estávamos lá de novo, descendo as velhas pistas. Às 17:00, depois do esqui, mais comida: o lanche da tarde, só para tapear até o jantar. Mas não podíamos dar mole e comer demais, porque, às 21:00, tinha que ter espaço para o jantar!!! E o povo lá gosta de servir porções exageradas.

Depois do lanche, eu e Neco fazíamos aula de alongamento às 18:00. Quem dava aula era umas brasileiras da Compaia Atlética, que tinha firmado um convênio com o resort. Nada melhor que dar uma esticada depois de um dia hard na montanha. Para os tarados (Neco foi duas vezes), tinha aula de abdominal às 17:30. Curioso foi ver gente que esquiou o dia todo correndo em esteira, fazendo bicicleta ergométrica, malhando pesado... Também quero saber de onde saia tanta energia!

(foto minha no canjão - apelido do hot tube - posando do lado da cachoeira quente)

Depois do alongamento, hot tube, que carinhosamente chamamos de canjão, já que é comum haver meninas imersas na água quente. Para fechar a sessão caliente, 30 minutos de sauna, e banho. Como havia dito, já está na hora do jantar. Após comer de novo, relax no Lobby, para tomar mais um café. Como os quartos são pequenos, e especialmente os mais baratos pequeníssimos, o Salão Nobre é ponto obrigatório. Lá tem muitos sofás, o café, a entrada do restaurante dos ricos, o wireless, jogos de gamão, xadrez e um monte de criança brincando de pique esconde atrás das cortinas. Ás 22:30, rolava um showzinho ao vivo no bar. Tinha bandas muito legais. 24:00, caminha.

(na foto eu e o Neco, no pé da Viscacha)

Não me pergunte se eu voltaria para Portillo. È fácil se acostumar com a mordomia: guardar a prancha e tirar as botas para almoçar, o spa, comida de 4 em 4 horas. Mas o fato é que, se não nevar, a montanha fica muito monótona. Como já havia dito, não há sequer uma rampinha para arriscarmos uns saltinhos. Mas se nevar, todas as encostas estão franqueadas para o snow, além da garganta e das laterais da Plateau. Além disso, é sempre bom dizer que a neve de Portillo é excelente (diferente da de Bariloche), embora as máquinas se esforcem em raspar tudo o que podem das pistas.

Bem, é isso. Não estou aqui para dar respostas, mas sim para colocar pulgas atrás das orelhas dos curiosos que se dispõe a ler este resumo.

7 comentários:

Igalvao disse...

vt pj
concordo com quase tudo que vc disse, menos a parte do cafezinho free(não era só o cafezinho...e a xicará?...) hauhauhauhauha
só esqueceu de falar do seu maravilhoso e extrovertido companheiro de quarto huahuahuhauhauha
abração, até a proxima snowtrip!

johnny disse...

Essa eu perdi, mas confesso que fiquei a fim de visitar a montanha nos dias pós-nevasca. Você tem razão, no almoço eu ia devorar um sanduba rapidinho pra voltar pra pista, mas as outras refeições não ia perder!
Fica pra próxima.
Valeu o relato!

leomm disse...

Bacana demais o relato Pípou. Os comentários sobre as pistas e os detalhes "operacionais" da estadia por lá, são os mais completos que já li. Quando eu ficar rico e velho, lá vai ser meu destino preferido: comer, fazer spa, e quem sabe dança de salão...rs
Mas acho que vc errou a semana e a montanha pô; o lance é a segunda de agosto, em La Parva.
Ab.!
Leo Marques

johnny disse...

Caraca, com as fotos agora ficou nota onze. Diversos comentários:
1. Achei que o Luizinho fosse um mini-marcelo na primeira foto, por causa das roupas.
2. Foto 3: quanta neve!
3. Foto com o lago ao fundo, muito maneira.
4. Andarível: deve ser uma comédia subir, bem diferente.
5. Podia ter nos poupado da foto Garoto do Fantástico!
É isso, parabéns pelo relato e ainda mais pela trip bem sucedida.
Abs!

Anônimo disse...

O tal do andarível é sinistro de subir... mas é tudo de bom quando se está lá no pico.

Boa viagem, veinho

Pipou

Márcio disse...

E a bota Pípou???

Anônimo disse...

Ficou apertada nos primeiros dias, mas depois se ajustou.
Vedação 100%!
Pípou